quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Crise

Eu percebi que não posso viver sem respirar,
mas já senti o coração parar
e nem que eu tente, nem mil gestos e palavras irão mudar o que o medo faz.
A dor que corrói, e a ira que destrói.
O vento que na cara bate como um tapa,
nem as lágrimas que sujam o corpo com a alma imunda e impura.
O elo que mesmo trincado insiste em permanecer.
E tudo pra quê?
Não sei dizer, mas os gritos no escuro dizem que é algo de dentro,
como uma máquina que comanda todo o sistema e faz persistir.

Percebi que posso viver sem sentir,
mas a verdade não me deixa mentir,
e nem que eu queira as cicatrizes não vão curar,
nem a pele parar de sangrar,
nem a voz que ecoa, e a promessa que magoa.
A noite que voa, e a morte que chega sem avisar.
Nem a faca que o peito atravessa e insiste em queimar.
No fim é sempre assim...

Por fim as vozes se silenciam, a dor passa, o corpo esfria, o sangue seca, a alma limpa, o medo se esvai. A máquina vence outra vez, o ar volta e tudo fica bem.
 Até que o ponteiro volte ao início.

Angústia

     Começa com uma picada
Uma batida, e então um chacoalhar na alma,
que enlouquece e deixa tonto.
Ai vem a dor, sem vigor nem pudor,
uma força descomunal,
uma alavanca que não vai, mas volta,
bate no peito e deixa um vazio
maior que a alma, maior que eu.
Maior que possa imaginar.
Medo que corre pelas veias
e escurece os olhos, impedindo a visão,
abrindo portas infinitas para o pensamento insano.
O tremular das mãos, e o suor da pele, 
a saliva que multiplica,
e os nervos que se agitam em contraponto a carne que adormece e congela.
Agonia que não tem fim.
Tira de mim
o medo de não mais ter o que acostumei a ter, 
pois com mil angústias terei a morte.