Sentei-me ao seu lado e sem dizer nada, observei a vala cheia de bitucas de cigarro. Ele estava sentado com os cotovelos sobre os joelhos, com um cigarro entre os dedos, e o olhar firma para o horizonte distante.
O céu naquela hora era um emaranhado de cores, infestado de nuvens sobrepondo a luz do sol que partia sem dizer adeus.
Sem que eu pronunciasse palavra alguma, ele disse sem nem ao menos direcionar o rosto para mim:
- É assim que eu me sinto.
- Como? - Eu respondi, sem compreender.
Em um subto movimento, ele soltou a fumaça que guardava em sua boca.
- Como o sol, que todos os dias vem trazer sua luz, mas todos os dias as nuvens o sobrepõe, escondendo seu brilho, o deixando para trás. Como se surgir no horizonte as seis da manhã fosse um pecado imperdoável, como se seus raios de calor fossem um fardo a se carregar. Como se a lua com todo seu esplendor e elegancia o fizesse desaparecer da história da vida de todas essas pessoas que assistem de camarote o passar do dia.
Confesso que de início levei algum tempo para entender o que ele estava tentando me dizer, mas não foi dificíl perceber a metafora imbutida naquelas palavras baforadas.
Derrepente, sem que eu percebesse, ele estava imerso em lágrimas, seu rosto estava lavado com a água da alma, como se em seus olhos houvesse uma forte tempestade. Suas mãos tremiam, e só então eu compreendi as tantas latas de ceveja e os cigarros em demasia. Era um 'mau que substituía uma dor', uma 'troca de sentimentos'.
E então me pergunto se você já pensou em todas as vezes em que ele chorou sem que você soubesse, em todas as vezes em que ele se debateu para te entender, para entender seus acertos e aceitá-los como erros. Me pergunto se algum dia você realmente se importou ou foi egoísta o bastante para entender somente a sua dor, seu fervor, sua vida.
O que pensou quando ele deixou as próprias raízes para seguir as suas? Quando deixou os cortes de lado para seguir em frente? Aposto que nem sabe quantas vezes ele quebrou os dedos em diversos socos nas paredes ao invés de tratá-la mal.
Só eu sei o quanto ele é forte por aguentar, ser firme e não deixar de tentar.
Vi, presenciei o sofrimento e a dor. A vida desperdiçada em um aprendizado já ensinado, já aprendido, decorado e desfrutado.
Mas eu conto pra você, que esta história está bem ai na sua frente, esperando as reticencias saírem do foco, as vírgulas encontrarem seus devidos lugares, e o ponto final ser escrito. Pois sei que o corpo frio já não poderá mais ser aquecido, nem o coração remendado. Mas não te culpo.
Sei que essa história não é minha, sou mero espectador. Nem dele, é sua.
E de mais ninguém.
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