sábado, 3 de setembro de 2011

Anceio


Minhas caminhadas já não fazem mais o mínimo sentido desde que minha luz se foi. Naquela noite, em meu peito o medo eu guardei. Segui o rastro do sangue que escorrera por meus lábios ao ironicamente dizer adeus. E cá estou, a refletir sobre meus próprios devaneios, sobre suas palavras e meus erros. Mas nada faz parar, tudo só faz continuar.
E só agora, percebo que nem ao menos permiti a mim mesmo tentar viver. Prendi-me aos espinhos e aos cravos, rasguei minhas veias e fulminei o amor que fluiu. Matei as rosas e espantei a felicidade. Pra longe, aonde eu não mais possa ver. Pra junto de ti.
Minhas canções hoje fazem sentido, e a cada instante morro um pouco mais. Matando-me a cada verso, queimando como ferro em brasa, como o amor que outrora senti. Sentimento assaz verdadeiro. Lubrificado pelo brilho da saudade incessante e incomensurável de teus lábios. De tua vida. De ti.
E só agora, tão tarde, momento em que não mais posso viver. Instantes antes de partir, em contraponto ao último suspiro, meus lábios ergueram-se em um sorriso afável e límpido. Sem medo, sem revolta nem rancor. Apenas lembranças. Imagens já vistas, momentos já vividos, e palavras já proferidas, porém algo que insiste em renovar-se. Algo que parece-me sempre contagiante a ponto de fazer-me tremular com ânsia de ter.
Você.

Gotas de uma noite sem ti


Tudo a minha volta parece não existir, tal como as gotas que caem sobre mim, escorrendo por todo meu rosto, trazendo meu cabelo abaixo e escorrendo pelos cantos de meus olhos como lágrimas sofridas.
Que falta me faz as canções durante essa caminhada. Tão forte é o silêncio que facilmente posso ouvir o tilintar das gotas e os murmúrios mais profundos de minha mente em busca de um novo refúgio.
A vida aqui fora permanece mórbida.
As luzes parecem não mais se moverem, mas as sobras que constante e incessantemente me rondam aparentam nunca desistirem de seu objetivo. Sugar-me a alma por inteiro.
Meus pés e minhas mãos encontram-se tão gélidos que mal posso senti-los.
Meus olhos mal podem se fechar tamanho que é o frio. Mas uma parte de mim permanece aquecida. Meu coração. Que alimenta-se do fervor de minha paixão por ti, que demasiadamente o fez sofrer e constantemente o torturou, e mesmo assim continua amando-a como se fosse ontem e nunca houvesse um amanhã.
Minhas palavras se perdem entre meus versos simplórios e emocionalmente fortes, por assim dizer.
E a sinfonia que cantei ao ouvir tuas palavras me trouxeram a neve, que fez-me lembrar do branco de tua pele macia.
E o brilhos dos teus olhos que guardei nem ao menos poderia ser comparado ao da lua, pois seria um grandioso insulto a ti, tamanha tua beleza.
Essa trilha não tem fim, mas este sonho um dia há de acabar. Só espero poder mais uma vez desfrutar da doçura de teus lábios e magnificar-me com teu sorriso antes de fechar os olhos para toda a eternidade.

...Esqueças


Esqueças.
Não mais lhe procurareis
Mas não desanimes,
Faças assim como fui capaz de fazer.
Quem sabe assim um dia tu me achas.
Esqueças-te de minha face
Pois não julgo-te por não me querer.
Esqueças-te de minhas palavras
Mas saiba que não mais lhe esperarei
Até que recíproco seja a tão imensurável e grandiosa vontade de ter.

Berros


Esta noite parece-me tão irreal, de tal diferencial que penso há muito estar sonhando. Meus passos mal posso sentir, porém em meus cabelos o vento se debate, e a forte brisa faz-me fechar os olhos, trazendo de volta tempos que já havia esquecido.
Em contra partida posso sentir o fervor das lágrimas atravessarem com ânsia as pestanas que insistem em tremular. Neste momento o inigualável brilho da lua parece derreter entre as nuvens, tornando a magnífica paisagem em singelos borrões de tinta negra, e meus lábios desfrutam involuntariamente o salgado sabor das doloridas lembranças. Quanto mais tento fechar os olhos para não enxergar, mais fortes são seus sussurros em meus ouvidos, como se quisesse matar-me aos poucos, dilacerando e corroendo cada fibra que ainda resta em meu coração. Tão incomunal é a dor, que parece nunca ter fim. Porém no fundo algo parece incontrolavelmente berrar por socorro, como se as ataduras não fossem mais suportar o peso da saudade. 

Dead Inside


     A corrente de ar que se abatera em meu rosto quando tranquei minhas janelas, trouxe com sigo teu cheiro, na verdade, teu ar da graça, tua virtude e magnitude em tamanho esplendor. E agora em meio a este vazio de escuridão, encontro-me a sentir sua falta, tentando quebrar os espelhos da dor que por dentro corrói e destrói tudo o que outrora havia conquistado ao lhe perder. Aqui dentro meus olhos nada podem ver, porém minhas mãos permanecem a arranhar com ardor e perseverança meus braços e pernas, mesmo não havendo mais indícios de força. As marcas são tão aparentes quanto as que você me deixou, mas suas dores nem se comparam. Posso sentir o sangue ferver e escorrer entre meus dedos, tal como os gritos que me dilaceram a cada instante. O silêncio é de tão morbidez que sinto como se estivesse morto por dentro.
     Eu só queria poder ver-te mais uma vez. Saber que em você ainda existe perfeição como meus olhos sempre me disseram haver. Descobrir se seu brilho ainda reluz em mim. E talvez, finalmente entender por que.

Incertezas




     É inevitável não transparecer, sentir-se confiante o bastante para decidir entre a mente e o coração. Quase impossível não permanecer neste mar de incertezas que nos leva mais e mais para o fundo. Imprescindível não tremer ao sentir a presença que tanto nos confunde e nos faz sentir tantas coisas que já não é possível descrever. Notável a percepção de que o tempo já não passa, de que os dias de espera nunca se acabam e de que as noites trazem com a escuridão um grande manto de dúvidas e pensamentos totalmente sem sentido. Surpreendentemente trágico perceber que todo o tempo que se esperou não é ao menos um terço do que ainda esta por vir, mesmo que tenha esperado por anos e esteja a apenas algumas horas de finalmente encontrar-se com as respostas que tanto se espera. Inacreditável relembrar de tudo o que se passou e notar que de nada valeram as promessas feitas, já que em determinado momento os sentimentos gritaram mais alto e profundamente. Amedrontador imaginar seus maiores medos tornando-se realidade, fazendo de seus melhores sonhos os piores pesadelos. Incontrolavelmente desesperador não reconhecer a si mesmo ao sentir o fervor das lágrimas escorrerem pela face. Mas imensurávelmente extraordinário sentir uma enorme vitalidade percorrer todo o corpo ao inalar o puro aroma de rosas que se instala em nossas mentes ao permitir que os olhos encontrem o brilho que tanto procuravam. E incompreensível que apenas um sentimento seja tão forte a ponto de não abater-se diante de todas as barreiras impostas pelas incertezas.