quinta-feira, 21 de abril de 2016

Coração

A gente cresce e aprende que toda pessoa deve encontrar seu lugar ao lado de alguém. A gente aprende que toda panela tem sua tampa, que não existe pessoa feia ou insuportável o bastante que não consiga encontrar alguém que o ame. A gente se acostuma a sonhar com o dia de encontrar a tão dita metade da laranja. A gente tenta a primeira vez e quebra a cara bonito, a gente diz que nunca mais vai tentar e logo quebra a cara de novo e de novo, sempre com alguém que não está na mesma sintonia em que estamos, ou que simplesmente não se importa.
Tem gente que tem medo de tentar. Deseja, mas teme. Só sente essa experiência de vida quando a vida resolve que é hora de esbarrar nela. No fim, cada um vive essa ponte da vida de uma maneira, cada um com suas cicatrizes, com suas magoas dos que o feriram e no fundo, com boas lembranças dos que se foram.
Eu digo que depois de calejado, todo mundo aprende que não se deve entregar algo tão valioso de si para alguém, e geralmente não entregamos mesmo, pois é, mesmo jurando de pés juntos ter entregue tudo de si para alguém. Lá no fundo a gente sabe que se algo der errado, vamos sofrer outra vez, mas para quem já sofreu outras vezes, que diferença faz? Depois de um tempo a gente também aprende que ressaca passa.
Então esse ponto se define quando já passou tempo suficiente para dois corações conhecerem o lado bonito um do outro. Tem gente que leva dois meses, e tem gente que leva cinco anos para chegar a esse ponto, mas a explosão e a mudança drástica na relação são quase sempre as mesmas. De um dia pro outro brigas e desentendimentos tomam o lugar dos elogios demasiados e das brincadeiras. Essa é a hora em que o lado negro do coração se sente a vontade para dar as caras, aquela hora em que nos deixamos ser quem somos quando estamos no ápice, e não me refiro a características que talvez ofendam o parceiro, como arrotar, não levantar a tampa da privada, não lavar a louça, sair e deixar o computador ligado. Coisas que quase todos fazemos e que costumamos não gostar, me refiro a defeitos pessoais, aquela raiva imediata, aquele choro premeditado, ou aquele egoísmo, ou até a relação próxima de mais com outras pessoas fora do relacionamento. E é nessa hora que aprendemos a saltar do barco, afinal, pra que aguentar os defeitos de alguém se já tenho tantos? Mas chega uma hora que você pra pensar, e se dá conta que esse é o momento que faz a diferença, essa é a hora da verdade que ninguém quer ouvir. Mas se você olhar minuciosamente esse momento, vai perceber que o problema sempre é você! Encontrar e apontar os defeitos do companheiro é extremamente fácil e até mais rápido que foi para encontrar as qualidades lá no inicio. Mas é nessa hora em que aprendemos onde erramos e o que estamos deixando de fazer pra ter o relacionamento que nos é proposto a vida toda. E é ai que começamos a olhar pro lado e ver que você ama não só quando a pessoa te trás café na cama, mas também quando ela te acorda nos gritos porque está atrasada pro trabalho, quando ela briga contigo por colocar um filme que ela não gosta, sendo que no fundo ela só está em um momento difícil do dia e viu em você a pessoa certa pra desabafar.
É difícil entender as outras pessoas, mas depois de olhar pra si mesmo e entender como esse ser complicado funciona, entender a pessoa que está ao nosso lado se torna muito mais fácil, pois isso é ser humano. Isso é amar os defeitos tanto quanto as qualidades, é AMAR por completo alguém.
Isso é ser você e deixar que a pessoa seja ela mesma, e caminharem juntos, não por interesse mutuo, mas por felicidade recíproca.
Isso é puro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário