Já me perdi diversas vezes em meio as
tantas palavras a quem proferi,
Mantive-me recluso no mundo real por
tanto tempo que me deparei com uma perda considerável daquele universo
particular que por tantos anos me manteve aquecido, onde cresci, e fiz do torto
o caminho certo a se trilhar.
Hoje meus pés descalços sentem a pele
rasgar sobre as pedras pelo caminho de um mundo em que pouco há tempo para
singelas palavras sem sentido de algo que se sente.
O pesar de ambientes pesados e falsos
corações me fizeram descrer de algo que aos olhos é real. Dentro de mim se fez
uma necessidade de ser o que poderia mudar, mas nem infinitas tentativas fariam
uma verdade.
O peso de tudo que há está presente
nas pálpebras pesadas sobre os olhos cansados, entre o rubor dos lábios secos
após sofrer com o ácido balburdiado por muitos ao redor. Entre os dedos fadados
ao trabalho indesejado, e nas horas a anos sonhadas, e hoje despejadas como
água velha em uma vala.
Mas tudo que esse tempo vem
martelando começa a transbordar e de repente me vejo próximo ao abismo que me
mantem longe daquela infância de ser algo imaginariamente maior, de ser o que
transcende o real com palavras ludibriantes e salgadas como qualquer dor que se
possa sentir ou relatar. As margens já não suportam manter o fardo dentro do
corpo, há uma vontade maior de explodir que vem como a maré alta que leva os
barcos ancorados para o mar profundo. Uma necessidade de emergir nas
profundezas do ser eu mesmo, mergulhar fundo e expulsar tudo que transborda.
Não falo de dores como exclusivas,
falo de sentidos.
Falo do ato límpido de viver, da
vontade de ser sem precisar tendênciar ser uma meta simplesmente planejada.
Falo de vida.
Desejo criar, preciso viver o irreal.
Preciso transcender a felicidade que
me tem.
Quero que sintam o que sinto, quero
fazer-lhes o que os dias me fizeram.
Se assim for, serão completos
incompletos.
Eu não almejo que seja eterno, mas
que seja complexo, que não faça nexo algum, mas que seja agridoce, um misto de
vida.
Só quero que minhas histórias sejam o
começo e o fim.
Preciso escrever todas as palavras
que aprendi.
Preciso ler todos os livros que
outros viveram.
Preciso ser o que já fui.
Preciso ser o lar que me mantem.
Preciso ser eu.
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