Por tanto tempo
Contei os dias, contei as horas,
Vi todos os minutos passarem,
Assisti a vida pela janela do quarto andar,
Caminhei descalço, e sem rumo.
Sem chegar ao fim.
Na verdade, nunca soube onde queria chegar.
O futuro nunca me foi tão real.
Sempre vivi no presente.
E todo esse tempo me fez entender que eu sou sentimentos.
Sou sentimentos bons,
Sou sentimentos ruins,
Sou apenas uma fração do tempo.
Mas sou alma.
E estou em todo lugar.
Folhas Secas
domingo, 19 de agosto de 2018
quinta-feira, 21 de abril de 2016
Coração
A gente cresce e aprende que toda pessoa deve encontrar seu lugar ao lado de alguém. A gente aprende que toda panela tem sua tampa, que não existe pessoa feia ou insuportável o bastante que não consiga encontrar alguém que o ame. A gente se acostuma a sonhar com o dia de encontrar a tão dita metade da laranja. A gente tenta a primeira vez e quebra a cara bonito, a gente diz que nunca mais vai tentar e logo quebra a cara de novo e de novo, sempre com alguém que não está na mesma sintonia em que estamos, ou que simplesmente não se importa.
Tem gente que tem medo de tentar. Deseja, mas teme. Só sente essa experiência de vida quando a vida resolve que é hora de esbarrar nela. No fim, cada um vive essa ponte da vida de uma maneira, cada um com suas cicatrizes, com suas magoas dos que o feriram e no fundo, com boas lembranças dos que se foram.
Eu digo que depois de calejado, todo mundo aprende que não se deve entregar algo tão valioso de si para alguém, e geralmente não entregamos mesmo, pois é, mesmo jurando de pés juntos ter entregue tudo de si para alguém. Lá no fundo a gente sabe que se algo der errado, vamos sofrer outra vez, mas para quem já sofreu outras vezes, que diferença faz? Depois de um tempo a gente também aprende que ressaca passa.
Então esse ponto se define quando já passou tempo suficiente para dois corações conhecerem o lado bonito um do outro. Tem gente que leva dois meses, e tem gente que leva cinco anos para chegar a esse ponto, mas a explosão e a mudança drástica na relação são quase sempre as mesmas. De um dia pro outro brigas e desentendimentos tomam o lugar dos elogios demasiados e das brincadeiras. Essa é a hora em que o lado negro do coração se sente a vontade para dar as caras, aquela hora em que nos deixamos ser quem somos quando estamos no ápice, e não me refiro a características que talvez ofendam o parceiro, como arrotar, não levantar a tampa da privada, não lavar a louça, sair e deixar o computador ligado. Coisas que quase todos fazemos e que costumamos não gostar, me refiro a defeitos pessoais, aquela raiva imediata, aquele choro premeditado, ou aquele egoísmo, ou até a relação próxima de mais com outras pessoas fora do relacionamento. E é nessa hora que aprendemos a saltar do barco, afinal, pra que aguentar os defeitos de alguém se já tenho tantos? Mas chega uma hora que você pra pensar, e se dá conta que esse é o momento que faz a diferença, essa é a hora da verdade que ninguém quer ouvir. Mas se você olhar minuciosamente esse momento, vai perceber que o problema sempre é você! Encontrar e apontar os defeitos do companheiro é extremamente fácil e até mais rápido que foi para encontrar as qualidades lá no inicio. Mas é nessa hora em que aprendemos onde erramos e o que estamos deixando de fazer pra ter o relacionamento que nos é proposto a vida toda. E é ai que começamos a olhar pro lado e ver que você ama não só quando a pessoa te trás café na cama, mas também quando ela te acorda nos gritos porque está atrasada pro trabalho, quando ela briga contigo por colocar um filme que ela não gosta, sendo que no fundo ela só está em um momento difícil do dia e viu em você a pessoa certa pra desabafar.
É difícil entender as outras pessoas, mas depois de olhar pra si mesmo e entender como esse ser complicado funciona, entender a pessoa que está ao nosso lado se torna muito mais fácil, pois isso é ser humano. Isso é amar os defeitos tanto quanto as qualidades, é AMAR por completo alguém.
Isso é ser você e deixar que a pessoa seja ela mesma, e caminharem juntos, não por interesse mutuo, mas por felicidade recíproca.
Isso é puro.
sexta-feira, 24 de julho de 2015
Palavras -Eu
Já me perdi diversas vezes em meio as
tantas palavras a quem proferi,
Mantive-me recluso no mundo real por
tanto tempo que me deparei com uma perda considerável daquele universo
particular que por tantos anos me manteve aquecido, onde cresci, e fiz do torto
o caminho certo a se trilhar.
Hoje meus pés descalços sentem a pele
rasgar sobre as pedras pelo caminho de um mundo em que pouco há tempo para
singelas palavras sem sentido de algo que se sente.
O pesar de ambientes pesados e falsos
corações me fizeram descrer de algo que aos olhos é real. Dentro de mim se fez
uma necessidade de ser o que poderia mudar, mas nem infinitas tentativas fariam
uma verdade.
O peso de tudo que há está presente
nas pálpebras pesadas sobre os olhos cansados, entre o rubor dos lábios secos
após sofrer com o ácido balburdiado por muitos ao redor. Entre os dedos fadados
ao trabalho indesejado, e nas horas a anos sonhadas, e hoje despejadas como
água velha em uma vala.
Mas tudo que esse tempo vem
martelando começa a transbordar e de repente me vejo próximo ao abismo que me
mantem longe daquela infância de ser algo imaginariamente maior, de ser o que
transcende o real com palavras ludibriantes e salgadas como qualquer dor que se
possa sentir ou relatar. As margens já não suportam manter o fardo dentro do
corpo, há uma vontade maior de explodir que vem como a maré alta que leva os
barcos ancorados para o mar profundo. Uma necessidade de emergir nas
profundezas do ser eu mesmo, mergulhar fundo e expulsar tudo que transborda.
Não falo de dores como exclusivas,
falo de sentidos.
Falo do ato límpido de viver, da
vontade de ser sem precisar tendênciar ser uma meta simplesmente planejada.
Falo de vida.
Desejo criar, preciso viver o irreal.
Preciso transcender a felicidade que
me tem.
Quero que sintam o que sinto, quero
fazer-lhes o que os dias me fizeram.
Se assim for, serão completos
incompletos.
Eu não almejo que seja eterno, mas
que seja complexo, que não faça nexo algum, mas que seja agridoce, um misto de
vida.
Só quero que minhas histórias sejam o
começo e o fim.
Preciso escrever todas as palavras
que aprendi.
Preciso ler todos os livros que
outros viveram.
Preciso ser o que já fui.
Preciso ser o lar que me mantem.
Preciso ser eu.
Sou
Sou o mar estreito entre dois rios;
Sou a lua entre nuvens numa noite
nebulosa;
Sou o dia sem sol;
Sou as folhas secas de uma árvore de
outono;
Sou palavras desconhecidas de um
livro inacabado;
Sou verdade, e sou mentira;
Sou tudo que não deveria;
Sou ácido que corrói entre os
pulmões;
Sou sangue que percorre as veias e
escorrem pelas mãos;
Sou a canção sem refrão;
Sou o lado torto da linha reta;
Sou o fio que se rompe;
Sou o rabisco de um lápis sem ponta;
Sou a série sem fim;
Sou estrela que não brilha em noite
estrelada;
Sou animal feroz;
Sou carne indefesa;
Sou surrealismo por dentro;
Sou frio que aquece;
Sou morte deliberada;
Sou humano como todos nós;
Sou tudo aquilo que te faz me querer,
tudo aquilo que te faz beirar o erro e se juntar às pedras no fim do penhasco.
Sou teu desamor pela dor, sou teu
sentimento mais completo e inacabado.
Sou seu a espera do “sou sua”.
Sou eternamente,
Sou seu.
terça-feira, 3 de dezembro de 2013
Sinestesia
-Porque me trazes aqui?
-Vim lhe servir da vida a poção mais doce.
-E de que me serve se já não tenho paladar?
-O gosto é sinestésico, se sente na boca e na alma.
-E de que me adianta se por dentro estou morto?
-Servirá de elixir da vida, te trará de volta o ar.
-E de que me adianta ar pra respirar se não há mais força para suportar?
-O ar te trará a força da terra em que você cairá.
-Mas força de nada me importa se não há fervor.
-A luz do sol te trará fervor, e o brilho da lua o desejo de amar outra vez.
-Amor? Como se permaneço incompleto?
-Completar-se irá ao abrir os olhos.
-Entendo. Mas afinal, a quem me dirijo a palavra?
-Sou o hoje, o amanhã e o sempre. O que lhe permito chamar de coração.
-Vim lhe servir da vida a poção mais doce.
-E de que me serve se já não tenho paladar?
-O gosto é sinestésico, se sente na boca e na alma.
-E de que me adianta se por dentro estou morto?
-Servirá de elixir da vida, te trará de volta o ar.
-E de que me adianta ar pra respirar se não há mais força para suportar?
-O ar te trará a força da terra em que você cairá.
-Mas força de nada me importa se não há fervor.
-A luz do sol te trará fervor, e o brilho da lua o desejo de amar outra vez.
-Amor? Como se permaneço incompleto?
-Completar-se irá ao abrir os olhos.
-Entendo. Mas afinal, a quem me dirijo a palavra?
-Sou o hoje, o amanhã e o sempre. O que lhe permito chamar de coração.
terça-feira, 1 de outubro de 2013
Câncer
Queda
Sentira as mãos escorrerem pelas grades, sentiu a ferrugem correr pelos dedos ao cair.
Separou os lábios e permitiu que a fumaça saísse, encontrasse o ar que necessitava respirar.
Os joelhos chocaram-se ao chão e de longe ouviu-se o estalar dos ossos, rompendo com os ligamentos e sentimentos ininterruptos que explodiam e congelavam por dentro, enquanto o corpo fervia em febre.
Não soube se o eco eram do choro ou das vozes incessantes.
Não soube se a água que escorria pelo rosto eram lágrimas ou gotas da chuva, da tempestade que se fez.
Na dor se fez o tremular e o suspirar.
E se não suportasse mais?
E se não fosse mais assim?
Se o céu fosse coberto por um manto preto?
Se não houvesse depois?
Questionou-se demais.
Nada se fez.
E então, despencou.
Sentira as mãos escorrerem pelas grades, sentiu a ferrugem correr pelos dedos ao cair.
Separou os lábios e permitiu que a fumaça saísse, encontrasse o ar que necessitava respirar.
Os joelhos chocaram-se ao chão e de longe ouviu-se o estalar dos ossos, rompendo com os ligamentos e sentimentos ininterruptos que explodiam e congelavam por dentro, enquanto o corpo fervia em febre.
Não soube se o eco eram do choro ou das vozes incessantes.
Não soube se a água que escorria pelo rosto eram lágrimas ou gotas da chuva, da tempestade que se fez.
Na dor se fez o tremular e o suspirar.
E se não suportasse mais?
E se não fosse mais assim?
Se o céu fosse coberto por um manto preto?
Se não houvesse depois?
Questionou-se demais.
Nada se fez.
E então, despencou.
quinta-feira, 30 de maio de 2013
O dia em que a dor se tornou constante
Tamanha a perda, que o fez gritar em silêncio, sofrer em demasia a ponto de sentir os órgãos explodirem por dentro, e não mais sentir o ar em seus pulmões.
O tilintar das gotas na varanda fazia o tempo andar devagar e com caltela.
O uivar dos ventos eram fortes o bastante para fazê-lo tremer, e mesmo com as janelas fechadas era possível perceber a tempestade lá fora.
As paredes eram tão frias que não podiam mantê-lo aquecido. Não havia lareira, nem mesmo uma fogueira ou aquecedor, somente a dor que ardia e queimava sem fim.
A beira de um abismo, o corpo suplicava por clamor. Era insuportável aguardar uma resposta que poderia fazê-lo feliz, mas ao passar dos dias trazer a imensurável dor novamente.
Não queria perder a vida outra vez, queria ganhar e vê-la crescer ao passar dos dias.
Era sóbrio, mas parecia ludibriado com tudo o que se passava.
Só queria a paz, mesmo que não pudesse ter de volta o que se foi, mas estar só com os pesares e o apego para superar. Só uma pessoa o faria assim, mas ela também sofria.
O tilintar das gotas na varanda fazia o tempo andar devagar e com caltela.
O uivar dos ventos eram fortes o bastante para fazê-lo tremer, e mesmo com as janelas fechadas era possível perceber a tempestade lá fora.
As paredes eram tão frias que não podiam mantê-lo aquecido. Não havia lareira, nem mesmo uma fogueira ou aquecedor, somente a dor que ardia e queimava sem fim.
A beira de um abismo, o corpo suplicava por clamor. Era insuportável aguardar uma resposta que poderia fazê-lo feliz, mas ao passar dos dias trazer a imensurável dor novamente.
Não queria perder a vida outra vez, queria ganhar e vê-la crescer ao passar dos dias.
Era sóbrio, mas parecia ludibriado com tudo o que se passava.
Só queria a paz, mesmo que não pudesse ter de volta o que se foi, mas estar só com os pesares e o apego para superar. Só uma pessoa o faria assim, mas ela também sofria.
Assinar:
Postagens (Atom)